21 de maio de 2008

Moçárabes Hoje

"Fieles a este espíritu, los Obispos de España, reunidos en la XLV Asamblea Plenaria (17-22 de noviembre de 1986), aprobamos el texto del Ordo Missae del Rito Hispano Mozárabe, que fue confirmado por la Santa Sede el 17 de julio de 1988, mediante el Decreto Hispaniarum Ecclesiae. A consecuencia de ello, ha surgido en diversas diócesis españolas y no pocos monasterios el interés por la antigua Liturgia visigótica, que perduraba actualmente como Rito de los Mozárabes. Su venerable antigüedad y la riqueza espiritual de su teología y celebración han merecido la alabanza de los últimos Papas y el desarrollo de una serie de estudios científicos, orientados a mantener esta liturgia de cuño hispano. Todo ello con la finalidad de que no sólo las familias mozárabes sino todos los fieles católicos puedan participar en ella de manera más consciente, plena y activa. "
Fonte: http://www.archimadrid.es/sanisidro/mozarabe.htm

Para a Liturgia "Hispano-Mozárabe" e História:
"Suprimido el Rito a instancias del Papa Gregorio VII en 1080, pervivió, no obstante, en las Parroquias Mozárabes de Toledo todavía bajo dominio musulmán."

http://www.mercaba.org/LITURGIA/Mozarabe/rito_1hispanomozarabe.htm



Nota: "Moçárabe" equivale a "o que se tornou árabe". Na península ibérica os moçárabes mantiveram-se cristãos ainda que sob o Islão.

الأندلس Al Andaluz

“Mas a Europa dos verdadeiros saberes nesta altura, místicos e científicos, espirituais e operativos, estavam a coberto destes cenários. Recuemos ao Califado dos Omíadas (661-750), com destaque para o Sultão Kalid ibn Yazid, onde as Escolas de Córdova desenvolvem toda uma ciência hermética greco-egípcio-árabe, bastando destacar vultos como Djabir e o seu discípulo Al-Razi (860-940), como Geber e Avicena (morre em 1198). Daqui brota todo um desenvolvimento da aritmética, da medicina, da física e da química (e não só), atraindo vultos judaicos e cristãos, sobretudo Monges, dos quais é exemplo o Monge Gerbert d’ Aurillac, o futuro Papa Silvestre II, O Papa do Ano Mil que morre em 1003.
Alguns artífices do Românico e depois do Gótico, acolhidos pelos Monges, herdeiros dos saberes dos Colégios Romanos, são Mestres destes Centros de Investigação de Córdova ou já de Montpellier ou Colónia, como de Alcobaça, Tarouca, Lorvão e Tomar, em Portugal, não se isolando por religiões, antes trocam investigação com outros eruditos, não havendo as funestas ciências e artes de hoje, assentes na propriedade intelectual, um mercantilismo que só agrava a doença, a fome e o bem-estar social e moral (...) Sempre os eruditos Reis da Península nunca se meteram em Cruzadas no Médio Oriente e muitas vezes se puseram ao lado de Almorávidas contra os Almôadas. A História é contada para agradar aos poderes, mas quer O Rei Afonso X, o Sábio, ou seu neto, D. Dinis, tinham nas suas Cortes ou por Conselheiros, diversos credos de fé, sem ambições de unir a Península, por casamentos, por exércitos ou comércio.”

Excerto Texto-Reflexão de João Santos Fernandes intitulado “Templários Cristãos”, 01 de Março 2005 (documento inédito)


Cf. Robinson, C., 2002: In praise of Song: The Making of Courtly Culture in al-Andalus and Provence, 1005-1134 A.D. Brill, Leiden.

16 de maio de 2008

Véus

“A Viagem à Atlântida, do mitologista Denys de Mileto (...) Ele estabelecia de uma maneira indiscutível a posição do castelo dos Atlantes e demonstrava igualmente que esse sítio, negado pela ciência actual, não tinha sido submerso pelas águas, como imaginam os poucos defensores da hipótese atlântida. Ele chamava-lhe «maciço central mazyciano». O senhor deve saber que já não existem dúvidas sobre a identificação dos Mazyces de Heródoto com as populações do Imoschaoch, os Targui. Ora o manuscrito de Mileto identifica peremptoriamente os Mazyces da história com os Atlantes da pretensa lenda. Denys de Mileto dizia que a parte central da Atlântida (...) não tinha sido submergida pela catástrofe narrada por Platão (...) essa parte correspondia ao Hoggar targui e que nesse Hoggar, pelo menos nessa época, a nobre dinastia neptuniana considerava perpetuar-se. (...) o senhor pode conceber que eu tive esta ideia: o que subsistiu durante nove mil anos, pode subsistir onze mil.”

Pierre Benoit, A Atlântida, p.91, Ed Minerva (1974, ed. original é de 1920)

Notas: targui é o singular de tuaregue; Hoggar é uma cadeia montanhosa na Argélia (abaixo)




Além

(Èugene Delacroix, 1798-1863, Scène au Maroc)

" Os Cavaleiros do Templo e os Cavaleiros Hospitalários de Jerusalém, que podem ser vistos como os representantes mais fiéis e mais organizados da Cavalaria religiosa, datam do começo do século XII (1115). Ora, nessa época havia já, há mais de um século, entre os Árabes andaluzes, mílicias religiosas organizadas de uma maneira semelhante para o mesmo objectivo, conhecidos sob o nome de «rabites»."

Fauriel, Histoire de la poésie provençale, t. III, pp. 312 e seguintes - citado por Wacyf Boutros-Ghali, La tradition chevaleresque des Arabes, p.26, Ed EDDIF (tradução livre)

"E essa Cavalaria árabe não é apanágio exclusivo de uma classe ou de uma casta - ela é o modus vivendi de todo um povo. Nenhuma religião a revelou, nenhum poder a ordenou, nenhuma lei vela pela sua observância: apenas uma disposição natural para o bem a entronizou no coração dos homens."

Mesma obra, p. 38 (tradução livre)


Quase tudo possível

Um episódio
“Diversas linhas de identidade entrançavam-se em Ahmed Abakar. Era um africano cor de café, com um tufo de cabelo branco no queixo. Pertencia ao masalit, uma das tribos de agricultores africanas expulsas pelos janjaweed, os nómadas árabes armados pelo governo do Sudão dominado por árabes. Ele detestava árabes e, contudo, exprimia-se em língua árabe. Também servia chá açucarado em copos pequenos de dose individual, como um árabe, vestia-se com uma túnica árabe e rezava cinco vezes por dia voltado para Meca.”

Outro episódio
“ Chamava-se David. Com a cabeça queimada pelo sol, os olhos coruscavam de determinação. Era um veterano do exército norte-americano, acumulando 16 anos de experiência (...) «A arma, esqueci-me da arma» disse, lembrando-se de que não podia levar a pistola para uma cerimónia de conversão. Acabou por escondê-la debaixo do assento do veículo. O imã estava sentado de pernas cruzadas debaixo de uma ventoinha que zunia. Um televisor murmurava as incidências do mais recente jogo de futebol entre o Lyon e o Real de Madrid. O imã instruiu David no sentido de repetir três vezes a shahadah e fez-lhe uma longa prelecção sobre os cinco pilares da fé, em songhai e em francês. «Não consegui perceber tudo» disse David. Meia dúzia de jovens malianos tiravam fotografias com os telemóveis. Tremiam de excitação. Um centurião da era moderna a abraçar Alá na exótica Tombuctu era um espectáculo a que se assistia uma vez na vida. Ali quase tudo parecia possível (...) Gostei imenso do imã. Estava morto por assistir ao fim do jogo de futebol.”

Reportagem “Perdidos no Sael”, texto de Paul Salopek, National Geographic Portugal, Maio 2008




(mesma fonte, p35 - a chover no deserto)